quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Hygge ⁄rïga⁄ - O jeitinho dinamarquês


Dizem os dinamarqueses que além do peixe defumado o hygge é o produto de maior orgulho nacional (seus olhos até brilham quando tentam nos explicar o que significa).



Recentemente descobri o que é na prática esse tal de jeito hygge de viver que move nossos amigos nórdicos. Hygge é a arte de tornar momentos simples e triviais em algo extraordinário, aconchegante, íntimo. De difícil tradução e pronúncia quase impossível, o hygge é melhor compreendido quando sentido.



Sabe aquele jantar casual com bons amigos que ninguém sente as horas passarem, a comida parece melhor do que nunca, todos se sentem à vontade e a conversa é ótima? Isso é hygge. E aquele entardecer no calçadão da praia tomando um sorvete e batendo um papo-cabeça com seu filho de 4 anos? Também é hygge. Ligar o rádio pela manhã e a primeira música que toca é aquela sua favorita que te enche de ânimo pelo resto do dia? Hygge. Relembrar viagens com amigos, recordar o cheiro da casa da vovó com seus primos, tomar um chocolate quente no inverno ao lado do maridão. Hygge, hygge e hygge, respectivamente. Rir até chorar com a família toda das gafes que cada um cometeu. Hygge de novo.



É simples, genuíno e revigorante. Imprescindível para enfrentar rigorosos invernos escandinavos.



Temos que admitir: até nós brasileiros, mestres do "saber viver", poderíamos nos valer da arte do hygge da longínqua dinamarca.



Então, quando sentir vontade de parar o tempo para aproveitar ao máximo um momento mágico, você acabou de entender o que é hygge!

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

O Rio de Janeiro Continua Lindo

Click to play Feriado no Rio

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Louise em "A lagarta branca"

Era uma vez uma hortinha de apartamento há muito desejada...Fora planejada com todo o cuidado para ter os mais cheirosos e deliciosos temperos: manjericão, sálvia, alecrim, tomilho, endro, hortelã e alfavaca.
Os pés de morango estavam florecendo...

E o tomate cereja era digno de um quadro de Cèzanne. Mas havia uma certa Lagarta Branca que rondava a região. Diziam que nenhuma planta sobrevivera ao seu ataque fulminante...


Uma certa tarde, algo terrível aconteceu. O vento quente do verão soprava e a terra ainda estava morna do sol da tarde, quando um gigante faminto e branco se aproximou sorrateiramente...

Foi avassalador. Primeiro os vermelhos, depois os amarelos e por fim os verdinhos... A Lagarta Branca atacou novamente.






"Gato, gato, gato, gato" - Que saudades da Lúcia

Outro dia me recordei de uma personagem da minha adolescência na megalópole Sãomateuense com ternura. Eu finalmente a compreendi.
Não era fácil encontrar empregada doméstica em São Mateus, mas a mãe sempre acreditou no potencial das pessoas e dava chance para as mais interessantes moçoilas. De longe a mais caricaturística delas foi a Lúcia: uma moça de vinte e poucos anos, que se aventurara fora do pequeno sítio onde nasceu e cresceu pela primeira vez na vida, lá em casa, na "cidade grande". Ela descendia de Ucranianos e fora criada em uma colônia muito tradicional. Ela era muito tímida e retraída. Falava muito pouco e quando falava era uma mistura da estrutura gramatical do Ucraniano, sotaque caipira e um idioma que lembrava o Português. Quando precisava saber o que fazer para o almoço dizia: "Cozinhá arôs, feixão e perogue pro almoço vou hoje" ou " Num tá a Ticinha no quarto" se a coleguinha telefonava atrás da Tice. Cozinhava feijão, arroz e muitas variações do pierogi, todos os dias, invariavelmente. Pierogui assado, cozido, frito, de ricota, de couve, de carne moída.
Achávamos que ela era um tipo de extraterrestre. Morria de medo de eletro domésticos e de carros. Andava quilômetros para não ter que atravessar uma avenida.
Certo dia ela nos chocou. Estavamos todos assistindo ao noticiário na cozinha quando o William Bonner deu alguma notícia ruim, de um acidente grave ou algum crime, não me recordo. A Lúcia ficou tão impressionada com tal calamidade que não aguentou, levantou correndo atravessou a cozinha, desligou a nossa televisão e foi se esconder no seu quarto com o gato, seu melhor amigo e confidente. Nós rimos e tentamos confortá-la. Mas não pude deixar de pensar que talvez ela realmente fosse de outro planeta.
Isso foi a mais de uma década... (não tentem fazer as contas, por favor!)
Pois eis que na semana passada eu dirigia para o trabalho e ouvia o noticiário no rádio, quando o jornalista anuncia uma notícia horrenda, violenta demais para aquele horário do dia. E num reflexo eu desliguei o rádio e enxotei as cenas que se formavam na minha mente. Senti até náuseas. No mesmo momento me recordei do episódio da nossa Lúcia.
Ela era mesmo uma estrangeira na nossa sociedade, e vivia mesmo em outro mundo. Mas não era ela a anormal. Nós é que nos tornamos insensíveis de tanto escutar barbaridades. Eu porém, de alguma forma recuperei um pouco da minha sensibilidade pelo jeito, e daqui para frente vou tentar mantê-la intacta. Não vai ser fácil.
Como será que está a Lúcia hoje...tomara que já consiga atravessar a avenida e ligar o liquidificador, e que jamais perca a sua sensibilidade e pureza.